Sateré-Mawé frente à educação indigenista


A comunidade de Nova Esperança, localizada no Território Indígena do povo Sateré-Mawé, rio Marau, município de Maués, constituiu-se no dia 21 de março de 2013, em um campo político de disputa e negociação, envolvendo sabedores (nagnia), lideranças tradicionais (tu’isas), o presidente do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé – CGTSM, Tu’isa Geral do rio Marau, Antônio Tibúrcio Neto, acadêmicos, professores  e comunitários Sateré-Mawé, representantes da prefeitura municipal de Maués, professores da Faculdade de Educação – FACED da UFAM e a coordenadora da licenciatura Profa. Valéria Weigel,  “Formação de Professores Indígena” - Turma Sateré-Mawé, o professor Gersem Luciano dos Santos e a professora Elciclei dos Santos, da Faculdade de Educação – FACED.

                               Em disputa e negociação, o lugar da formação dos professores indígenas, uma vez que, atividades do curso vinham ocorrendo na sede do município. Professores da UFAM/FACED, juntamente com os indígenas foram ao encontro dos Sateré-Mawé na comunidade, com o objeto de dissuadi-los a descer da sua respectiva região e ao mesmo tempo a aceitar a proposta da Coordenação de continuar o processo de formação na BR. 174Km 26, Manaus - Boa Vista-RR, mais precisamente, na Fazenda Experimental da UFAM, local dedicado as atividades práticas de pesquisa de docentes e discentes da Faculdade de Ciências Agrárias – FCA, uma vez que, os discentes  Sateré-Mawé, já haviam se manifestado através de baixo-assinado encaminhado à Coordenação a deliberação da Turma em manter a sua formação em Maués.
                               A FACED/UFAM, agindo como uma frente de atração, justificativa que o “Centro de Formação Indigenista” será um espaço dos indígenas, e em termos de estrutura, haverá condições mais adequadas para as atividades acadêmicas e terá mais professores, ou seja, os professores em decorrência da localização não precisaram fazer viagens de barcos para as aldeias e/ou à cidade.
                               Razões instrumentais pautam a ação da frente de atração indigenista. O utilitarismo exposto, com o objetivo de atrair os indígenas para o projeto civilizacional foi à estratégia adota pelos colonizadores, incorporado pelos Serviços de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais - SPILTN e agora, em voga pelo Estado, capitaneado pelos humanistas indigenistas, que vêem no modelo de educação proposto pelo Estado a redenção dos indígenas. No Amazonas, o Diretório Pombalino, oficialmente já foi revogado, ideologicamente ainda está em voga. As consultas (impositivas) são uma mera formalidade instrumental.


                               Os Sateré-Mawé, por seu turno, contra argumentaram, seguindo o Wará (o princípio da sabedoria), que a saída de sua região, da proximidade com os familiares e de suas comunidades acarretaria prejuízos ao processo de ensino-aprendizado. Pautaram seus argumentos alegando que, a distância física e cultural, em decorrência da experiência de formação do magistério indígena e dos cursos de licenciatura oferecidos para indígenas em Maués transcorreu sem maiores atropelos. Não é a primeira vez que, publicamente, na mesma comunidade por ocasião do I Seminário de Intercâmbio de Experiência de Educação Escolar Indígena do Amazonas, os Sateré-Mawé manifestaram-se contrários ao descimento proposto pela frente de atração educacional indigenista.
                               Todo embate político, e o processo de educação de qualquer natureza não foge a regra, expõem de forma explicita as razões instrumentais, todavia, nos permite pensar nos objetivos implícitos que não são expostos em determinada situação. A luta travada entre os Sateré-Mawé e a coordenação da Turma Sateré-Mawé, fica evidente a tentativa de persuadi-los a descerem, deslocarem-se para outra região, campo neutro, desconhecido, circunscrito, cerrado; pretende-se com isso o controle absoluto sobre o processo formativo e facilitar o deslocamento de pessoas e equipamentos. Todavia, esse espaço formativo-disciplinador estatal, pois, o Estado investiu bancando a infra-estrutura e acenando para a contração de recurso humano, não será exclusivo dos Sateré-Mawé, os Munduruku foram persuadidos a fazerem o descimento.
                               A prática pedagógica jesuítica dos séculos XVII-XVIII na região do Madeira-Tapajós, estrategicamente idealizada e materializada na fundação de aldeamentos com o objetivo de agrupar os índios descidos é uma prática colonial que ainda se faz presente no Amazonas, o Centro de Formação de Professores e a própria formação indigenista ofertadas para os indígenas se constitui, se o projeto for concretizado, em um verdadeiro aldeamento educacional do século XXI.

                               Um novo embate entre os indígenas e a Coordenação da Turma Sateré-Mawé está marcada para este semestre. Novamente indígenas e indigenistas da educação se colocarão frente a frente. Os indígenas, em razão da estrutura estruturante do Estado que tenta controlar o processo de formação já declararam guerra ao emitirem oficialmente o seu posicionamento, aos profissionais indigenistas da educação espera-se bom senso, e que não adotem com estratégia a “guerra justa”, e oportunamente, que se coloquem na posição dos Sateré-Mawé como forma de entender as suas razões culturais. A partir de quem defendem a criatividade da formação de professores em indígenas em suas comunidades.

Coordenação da Tawaieh.

2 comentários:

Coordenação de Curso de Educação Física - ICSEZ/UFAM disse...

Força na luta que é justa e ótima análise do prejuízo do "descimento"! Parabéns e força na luta por uma educação digma e de qualidade!

Anônimo disse...

Eu Joede Satere estive nesse momento como um indigena defendendo essa absurda proposta imposta pelos indigenistas que trabalham com a formação dos indigenas satere mawe no município de Maué/Am, é uma luta árdua que nos satere mawe enfrentamos nesse momento com os indigenistas da UFAM Valéria Veigal, Elciclei e Gersen Baniwa.

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