Nas Trilhas da Autonomia: Educação formal indígena em discussão.


Os filhos do waraná da região do Marau, Território de Nusoken-Sateré-Mawé, com apoio do CGTSM, ICEI-Brasil e SECOYA, organizaram e realizaram no período de 05 a 09 de março de 2013, na comunidade Nova Esperança, o I Seminário de Intercâmbio de Experiência de Educação Escolar Indígena do Amazonas, com o tema central: educação diferenciada e de qualidade.
                   O evento, fruto das reflexões realizadas no III Seminário “Hate Ywakup”, realizado em abril de 2012, contou ainda com a participação de lideranças tradicionais, professores indígenas Sateré-Mawé dos rios Marau e Uaicurapá (Terra Indígena Marau e Andirá\Maués), Yanomami da região do Marauiá (Santa Isabel do Rio Negro), Tuyuka do rio Tiquié e Tukano (Alto Rio Negro\São Gabriel da Cachoeira), Tikuna da região do Alto Solimões (Tabatinga), Marubo e Matis do Vale do Javari (Atalaia do Norte) e acadêmicos da Licenciatura Específica para a Formação de Professores Indígenas (UFAM[i]) e do Curso Pedagogia Intercultural (UEA[ii]), comunitários do povo Sateré-Mawé e profissionais da educação - indigenistas do IFAM[iii]-Maués, UEA, UFAM e SEDUC[iv]-GEEI[v]/CEEI[vi].


                   A troca de experiência relacionada diretamente à educação formal desenvolvida em diversas comunidades indígenas foi o caminho trilhado para aprofundar e saber “o que está realmente acontecendo”, assim se expressou um professor Sateré-Mawé para se referir ao estado da educação escolar indígena no Estado do Amazonas. Saber e entender as vias burocráticas e políticas da educação defendida e difundida do pelo Estado foi objeto de discussão e debate entre os participantes indígenas e não indígenas.  
                   No decorrer dos debates, ficou claro, para os participantes indígenas, que a falta de uma política de educação escolar efetiva, que respeite e valorize os conhecimentos indígenas, ainda não entrou em pauta na agenda política do governo do Estado. O principal fator para esse tipo de comportamento é que muitos técnicos do governo “defende o que não se pode defender”, ou seja, uma educação formal indígena seguindo o modelos de uma educação formal não indígena. Além disso, os governos não dispõem de métodos adequados e apropriados para consultar os povos indígenas sobre os rumos e os caminhos da educação escolar que desejam para si e para os seus povos.



                   Seguindo esta trilha, identificando os problemas e os obstáculos da educação escolar indígena, os participantes em um verdadeiro “puxirum pedagógico” foram identificando as principais barreiras impostas pelo Estado, dentre elas a transformação dos interlocutores indígenas que, em nome do movimento e da causa indígena foram colocados e referendados para serem interlocutores frente ao Estado e se transformaram em interlocutores do Estado, na relação entre os indígenas e o Estado.
                   A não apreciação e o reconhecimento efetivo conforme prescreve a CRFB1988, a Convenção – 169 da OIT e a Declaração Universal dos Povos Indígenas, além da legislação que regulamenta a educação escolar indígena no Brasil, como a mais recente Resolução 05 de 22\06\2012 do CNE[vii], nas quais se pautam os vários projetos políticos pedagógicos elaborados pelos indígenas e encaminhados para as secretarias de educação que as ignoram e/ou reformulam, como bem ressaltaram lideranças e outros participantes em relação a essa atitude: “o que a gente repassa para o governo não é acatada”; “a escola deve estar à serviço da comunidade indígena e não o contrário”; “parece que quem fala em educação diferenciada é louco”.
                   De forma coletiva e interativa, os participantes realizaram reflexões em tornos das experiências pedagógicas e metodológicas desenvolvidas no processo de ensino/aprendizagem nas comunidades. O uso da língua materna, conforme foi destacado, orienta, a muito custo por falta de apoio a produção de material didático, a ação política de professores indígenas nas comunidades. Todavia, foi objeto de ênfase e de repúdio, a forma impositiva das SEMED’s em não respeitar a organização do calendário escolar próprio e os processos avaliativos dos povos indígenas.



                   Ainda de forma coletiva, os participantes avaliaram a construção, as transformações e os impactos que os projetos étnico-políticos ocasionaram nas comunidades. Concluíram que apesar dos obstáculos e das barreiras impostas pelo poder público, não evitaram os avanços e o desenvolvimento de muitos projetos traçados pelas comunidades. Ressaltaram que muitos indígenas residentes na comunidade em compreender a política de educação indígena desenvolvida nos territórios indígenas.
                        Para concluir as atividades, os participantes em plenária apresentaram, discutiram e encaminharam suas reivindicações para os poderes públicos com objetivo que as suas vozes e seus anseios sejam observados e sentidos pelos gestores públicos que muitas vezes desconhecem e, alguns deles ignoram as propostas e os encaminhamentos dos povos indígenas.



[i] Universidade Federal do Amazonas
[ii] Universidade do Estado do Amazonas
[iii] Instituto Federal do Amazonas
[iv] Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino
[v] Gerência de Educação Escolar Indígena
[vi] Conselho de Educação Escolar Indígena
[vii] Conselho Nacional de Educação

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