Há tempos nosso povo
luta pelo reconhecimento de nossa língua, nossas raízes. Até já conquistamos
algum espaço, insignificante até, mas estamos lutando, algumas conquistamos vem
“a dura pena”, como o fato de já conseguirmos inserir nosso conteúdo
programática, a disciplina de língua materna.
Nossa realidade, nós
conhecemos, ninguém nos conta. E essa realidade vem sofrendo uma significante
decadência; infelizmente não estamos tendo voz nem vez ultimamente, o que nos
deixa extremamente descontentes, pois o que conquistamos não deixaremos “homem
branco” nenhum nos tomar.
Enfrentamos problemas
seríssimos, que dariam ótima reportagem pro fantástico, nossas escolas, por
exemplo, estão abandonadas pelo poder publico municipal, com falta de
infraestrutura, funcionando em estado decadente não dando nenhuma condição de
aluno ter um aprendizado de qualidade, além da estrutura física das escolas,
temos a falta de suporte com carteiras, lousas, livros, que é o mínimo que
deveriam nos fornecer, sem falar na questão da merenda escolar diferenciada,
todos nós sabemos que quando se trata de etnia, temos direitos a uma quantidade
de merenda, e essa merenda não chega até nós, ou quando chega não chega na
quantidade certa. No ano de 2013, somente algumas escolar chegaram a receber
merenda escolar mais de uma vez, outras nem sequer chegaram a receber. Isso não
falamos de forma aleatória, sem justificativa, conhecemos nossos direitos,
temos como comprovar tudo o que aqui declaramos, não estamos sendo leviano, ou
coisa parecida, só queremos aquilo que nos é de direito, não estamos
questionando nem A nem B, mas sabemos que é dever do poder público nos suprir
que necessidade, necessidades essas mínimas.
Algumas situações, gostamos de atuar, não
deixaremos que nossas raízes, crenças, sejam banidas, debatemos, dialogamos, e
sabemos quem já trabalhou conosco e se saiu bem ou não. Por essa razão,
anteriormente, nosso povo, nossos caciques precisamente, eram quem escolhiam,
sempre no final do ano letivo, os professores que se saíram bem e que deveriam
continuar, os que não se adaptavam as realidades, não é que não fossem capazes,
mas é que eram de difícil dialogo e o trabalho assim não fluía como deveria; dessa
forma nossos caciques preferiam que esses não continuassem conosco. Mas a
partir desse ano, 2014, fomos informados que nossos caciques não teriam mais
acesso a esse dialogo. A escolha não era mais acertada com nosso povo, e que teríamos
que aceitar o que nós fosse imposto, simplesmente assim, ou aceitaríamos ou
ficaríamos sem professores para nossas crianças, isso assim imposto e pronto,
ditatoriamente, sem que pudéssemos nem questionar.
A partir desta situação
então foi feito uma audiência pública sobre educação e saúde, com participação
do Deputado Sidney Ricardo de Oliveira Leite Presidente da Comissão de Educação e Assuntos Indígenas na ALEAM,
Presidente da COIAB Maxiliano Tucano, Secretário da SEIND Bonifácio Baniwa e demais
representantes indígenas Satere-Mawe.
para tentamos entender e sermos entendidos, e ai para nossa
surpresa, mais uma vez fomos ludibriados, não sabemos o porquê? Dessa
administração não querer o bem do povo indígena, nunca interferimos no modo
deles governarem, mas com nosso povo é diferente, queremos ver nosso povo ser
tratado com respeito, pois merecemos e se chegamos até aqui foi porque
trabalhos para isso há muito tempo.
Enfim, marcamos nossa audiência, com dia e hora, e com antecedência de
fato, trabalhamos há meses para o evento, no qual comunicamos e convidamos
autoridades, inclusive municipais. Quando estamos nos preparando para a
realização da audiência, recebemos comunicado do poder publico municipal que os
professores indígenas, os cento e vinte (120) aproximadamente, precisariam
estar na sede do município para assinar seus contratos, fato esse normal se não
fosse pelo fato de, ocorrer justamente um dia antes de nossa audiência pública,
estranho não? Mas mesmo assim para não atrapalhar o poder público, viemos para
o tal cadastramento, e voltaríamos a tempo de realizar nosso evento, quando
chegaram aqui os professores ficaram sabendo que a Secretaria de Educação,
responsável pelo cadastro das assinaturas, só atenderia vinte (20), sendo ainda
em “brancos e índios”, ficando desse forma impossibilitado de serem todos
atendidos na sexta-feira, para que pudéssemos retornar a nossa tribo para nosso
encontro no sábado. Então acordamos que retornaríamos a sede do município na
segunda, depois da audiência, quando estávamos nos arrumando para voltar,
recebemos outro comunicado que acontecia na sede do município o Encontro
Pedagógico, em pleno final de semana, coisa que nunca aconteceu, e que os
professores precisariam permanecer na sede, pois os que não participassem do
encontro, teriam seus contratos cancelados. Agora lhes pergunto, essa foi ou
não uma forma de nos coagirmos a fazer nossa voz calar? Mas mesmo enfrentando
essas e muitas outras dificuldades, alguns professores resolveram ver para crer
e saímos da sede para nossa terra, para discutimos e dialogamos sobre como
fazer educação.
Texto: Divulgação Tawaieh